As distintas narrativas submetem-se a regimes particulares de elaboração. A contadores de lendas e estórias , é permitido e até desejável o inventar trechos inteiros, transmitindo aos mais jovens a tradição oral, reformulada ao sabor de imaginação e reações dos ouvintes. A literatura partilha de inventividade semelhante. Por mais comprometido o movimento literário com a descrição da realidade, trata-se de elaborar a ilusão do real, retratando os fatos de forma verossimilhante, não na complexidade muitas vezes inverossímil de sua sucessão. Isso quando há pretensão realista. Dentro da perspectiva adotada, a narrativa histórica, se difere da literária no compromisso de sustentar suas hipóteses com arcabouço probatório, associando retórica a prova , também não se desvincula dela no potencial interpretativo. Limita-o, no entanto, ao horizonte de indícios, testemunhos, vestígios, representações visuais, todos colhidos numa investigação centrada em detalhes sutis, gestos quase involuntários , habitando, de preferência, documentos marginais, casos anômalos, fontes menores . Não se reduz à exclusão, assim, a relação complexa entre narrativa histórica e literária, desdobrando-se, por um lado, num distanciamento indiciário mitigado pelo proceder interpretativo do historiador; por outro, numa identificação da literatura como fonte a proporcionar testemunhos perspicazes e valorosas percepções contextuais.
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